Percorram seu caminho cantando, mas que cada canção seja breve, porque apenas as melodias que morrem jovens nos seus lábios viverão no coração dos homens.
Narrem uma bela verdade em poucas palavras, mas nunca uma verdade feia em palavras impensadas. Digam à virgem cujo cabelo brilha ao sol, que ela é a filha do alvorecer. Mas, se encontrarem um cego, não lhe digam que ele é como a noite.
Ouçam o flautista como se estivesse escutando Abril, mas não dêem ouvidos ao crítico e ao que só acha defeitos; sejam surdos como seus ossos, e distantes como sua fantasia.
Em seus caminhos, meus companheiros e meus amigos, encontrarão homens com cascos: dêem-lhes coroas de louros; e homens com garras: dêem-lhes pétalas para lhes servirem de dedos; e homens com línguas bipartidas: dêem-lhes mel em vez de palavras.
De fato, encontrarão todos esses e muitos mais. Encontrarão o aleijado vendendo muletas; e o cego, vendendo espelhos. E encontrarão os ricos mendigando à porta do Templo.
Ao aleijado, doem um quinhão de sua agilidade; ao cego, forneçam um pouco de suas próprias visões. E procurem dar de vocês mesmos aos ricos mendigos: eles são os mais necessitados de todos, pois certamente nenhum homem estenderá uma mão pedindo esmola, se não for realmente pobre, não obstante com grandes posses.
Incito-lhes, meus companheiros e meus amigos, por nosso amor, a serem caminhos incontáveis que se cruzam um com o outro no deserto, onde passam os leões e os coelhos, e também os lobos e os cordeiros.
E recordem isso de mim: ensino-lhes não a dar, mas a receber; não a recusar, mas a realizar-se. Ensino-lhes não a rendição, mas a compreensão com um sorriso nos lábios.
Ensino-lhes não o silêncio, mas uma canção num tom não muito alto.
Instruo-lhes seu Eu maior, que compreende todos os homens.
Khalil Gibran
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