Oi pessoal! Muitos tem perguntado o que acho desta Onda de
Protestos.
Como
“quase filósofa” (falta um semestre) gosto de observar o comportamento e o
pensamento humano para depois estabelecer minha crítica radical, um dever de
todo pensador. Quebrar a estrutura, causar rupturas e ir até a raiz da questão,
estabelecendo um novo jeito de pensar, é basicamente a missão do filósofo. A
Filosofia bem estabelecida nos leva de volta à idade do por quê, dos
questionamentos do passado até a raiz da causa para que possamos compreender
nosso presente.
A alguns
dias atrás iniciou-se no Brasil um movimento de protestos e reivindicações, o
que é extremamente saudável e normal em uma democracia. Pois bem, vemos frases
por aí dizendo que o Brasil acordou e que está reivindicando seus direitos.
Pelo que tenho observado, fazemos isso gritando nas quatro direções da rosa dos
ventos que a culpa é do governo.
Do ponto
de vista da unicidade, somos todos um e não existem vítimas, nem culpados,
quiçá vilões. Se o governo está lá é porque alguém votou, afinal de contas
vivemos em um regime democrático.
Se o
governo é corrupto, o povo também é. Se o governo é ético, o povo também é. O
governo é apenas um reflexo de nós mesmos. Pense nas pequenas corrupções que
você comete a cada dia. Num país como o Brasil que é livre, leve e solto,
raramente um cidadão consegue ser cem por cento honesto.
Vamos ao
exame de consciência: se alguma vez você furou uma fila, ficou com o troco de
alguém, pirateou um CD, mentiu para levar vantagem, avançou um sinal vermelho,
não parou na faixa de segurança, você teve um ato de corrupção, pois não foi
ético e prejudicou alguém. E todos nós algum dia já ferimos a Cosmoética, de
alguma maneira.
A origem
da democracia está na Grécia Antiga e lá existia o foro, as reuniões nas ágoras
para que se discutissem as medidas governamentais. Era nesse debate, de forma
justa e argumentada, que se chegava às conclusões do que seria melhor para
todos, sem que prevalecessem os interesses pessoais. Levava-se em conta a
coletividade. E para que a coletividade se beneficiasse, muitas vezes,
eram exigidos sacrifícios pessoais, que eram feitos com o maior prazer pois era
para o benefício de todos.
Trazendo
para a realidade atual do Brasil, onde está o foro? Onde estão as ágoras? Onde
está a opinião do povo? Onde está a participação de todos?
O que mais
escuto por aí são frases como:
“ Odeio
política.
Não me
envolvo em política.
Os
políticos são corruptos.
Não
discuto sobre política.
Políticos
não prestam.”
Quem se
posiciona desta maneira, está embebido no mais profundo mar de ignorância. Em
primeiro lugar, o ser político não é o candidato, mas é o homem do povo, o
habitante da “polis”, ou cidade, como na Grécia Antiga. Portanto, a palavra
político faz alusão ao cidadão comum, a qualquer um de nós. Quando dizemos que
odiamos a política, é porque odiamos nossos atos. Quando dizemos que odiamos o
político, odiamos a nós mesmos.
A maioria
da população vive uma grande infantilidade emocional, e essa infantilidade
reflete-se nos governantes que nós temos.
Muitas
pessoas que hoje participam dos protestos, inspiram-se no filme Zeitgeist, e
chamam essa onda de protestos de “Movimento Zeitgeist”. O filme é excelente
(disponível na internet) e propõe uma nova ordem mundial baseada em tecnologia
feita de energia limpa, na extinção do dinheiro e do sistema capitalista.
Assistindo a proposta do filme, seria o melhor dos mundos, mas de acordo com
essa proposta, cada um teria de fazer a sua parte, e é aí que o caldo entorna,
pois não há maturidade emocional suficiente para que esse sistema seja
implantado.
Vamos
argumentar sobre isso?
Será que
estaríamos dispostos a fazer sacrifícios pessoais para o bem maior?
Desde que
o mundo é mundo, existe a política do “pão e circo”. César, na Roma Antiga,
dizia “ao povo, pão e circo”, pois sabia que o povo se contentava com migalhas
e que isso gerava prestígio político. Hoje vemos isso nos comícios, nas vendas
de votos e em muitos outros lugares.
Leia-se
pão: assistencialismo e a infinidade de bolsas que o governo dá em vez de
investir em capacitação profissional para que cada um gere seus próprios
recursos.
Leia-se
circo: carnaval, futebol, datas comerciais, reality-shows e tudo aquilo que
puder manter o povo bem alienado e distante da realidade, literalmente dopado
para os problemas nevrálgicos que afetam nossa sociedade.
Então
vamos fazer aqui um exercício, propondo uma libertação do estado de “circo”.
No Brasil,
quando chega janeiro, o povo reclama que bilhões de reais são gastos com o
Carnaval. Reclama, mas gosta, e muito! Então vamos imaginar que fosse criado um
movimento Zeitgeist de boicote ao carnaval e que todo o dinheiro gasto com isso
fosse destinado à educação, saúde, infra-estrutura, transporte, turismo, etc.
Imaginemos que esse boicote fosse proposto da seguinte maneira: que ninguém
beba nenhuma bebida alcoólica neste carnaval de 2014. Assim nenhuma cervejaria
vai vender, não haverá publicidade, os hospitais não vão lotar de bêbados em
coma alcoólica tirando o lugar de quem precisa de atendimento e o carnaval vai
acontecer da mesma maneira, com a sua finalidade que é dançar, brincar,
comemorar pelas ruas, só que sem bebida alcoólica. Então o Carnaval, a nossa
maior festa popular cumpriria sua função social de gerar emprego aos artesãos,
costureiras, estilistas e também de atrair turistas, só que sem bebida.
Então eu
pergunto: quem estaria disposto a abrir mão da sua “cervejinha”? Quem estaria
disposto nesse nível de profundidade? Pouquíssimas pessoas, pois a maioria quer
beber para extravasar, para esquecer dos seus problemas. Um povo maduro
emocionalmente organiza-se para resolver os problemas e não para esquecê-los.
Pessoas sábias e maduras querem evoluir e crescer e não encher a cara para
viverem dopadas e distantes da realidade.
A
população revolta-se contra a construção dos estádios para a Copa e vai até lá
assistir ao jogo!!! É muita incoerência!!! Se você não concorda, não consuma!!!
Vamos
supor que depois de muitos protestos e manifestações o governo decida investir
pesado na saúde e que o governante seja uma pessoa consciente e que faça a
seguinte proposta ao povo: “Tudo bem, vamos melhorar a tecnologia da saúde e
todos serão muito bem atendidos, mas nós governantes vamos implantar uma lei de
que cada cidadão precise fazer a sua parte, participando de políticas públicas
de prevenção. A partir de agora todo cidadão terá de fazer exercícios físicos
regulares, se alimentar de forma saudável com muitas frutas e verduras e comer
carne somente uma vez por semana. Ninguém mais poderá fumar, consumir açúcar e
álcool, e vamos reduzir radicalmente os produtos industrializados, que possuem
excesso de sódio e muitos conservantes que causam doenças.”
Quem
estaria disposto a levar uma vida regrada para contribuir com o Ministério da
Saúde? Quem estaria disposto nesse nível de profundidade? Quem estaria disposto
a abrir mão da feijoada para o bem maior?
O povo
quer receber, ganhar, de graça... Mas se tiver que abrir mão de algo, daí é
melhor deixar pra lá, né?
Nós, os
seres políticos ainda somos muito infantis. Precisamos compreender que o verdadeiro
movimento Zeitgeist começa dentro de casa, com pais conscientes e maduros
emocionalmente, capazes de educar as crianças que hoje “são órfãs de pais
vivos” como diz o amigo Luiz Carlos Prates. Como levar consciência, maturidade
emocional e equilíbrio a uma menina de seis anos que vive sem as menores
condições de higiene, ouvindo tiros, e que nesta semana conheceu seu quinto
padrasto?
Gente, a
reforma começa dentro de cada um de nós, quando estamos dispostos a buscar
conhecimento, sabedoria, equilíbrio e força interna. Muitos participantes dos
protestos nem sabem o que estão fazendo lá. Gritam por educação, justiça,
saúde, mas não entendem que esse processo é interno. Gritam para si mesmos.
Reivindicam aos políticos, sem saber que os políticos são eles mesmos. Clamam
por algo que somente cada um pode buscar. E quando encontrarem essa força
interna de consciência, ninguém mais precisará sair às ruas, pois os
governantes serão eles mesmos.
Gandhi foi
um dos maiores manifestantes que já existiu e podemos nos basear em seu
comportamento exímio em colaborar pelo bem da sociedade. Só que os votos e o
compromisso começaram por ele mesmo. Gandhi era um homem sábio, tinha
conhecimento, praticava yoga, era vegetariano, adepto de “ahimsa”
(não-violência), posicionava-se contra o sistema de castas, apoiava os dalits,
era amoroso e resistia pacificamente. Desde a marcha do sal até o movimento que
conquistou a Independência da Índia, ele se manteve firme e forte em seus
princípios e valores, sem ceder.
Então eu
pergunto: Quem estaria disposto a fazer o que ele fez, nesse nível de
profundidade?
Talvez
ninguém esteja tão comprometido como ele estava.
E era isso
que eu queria dizer.
Palavras
como luta, batalha, conquista e um mundo melhor ,só podem começar em um lugar: dentro
de nós mesmos, através de um grande esforço interno de nos tornarmos pessoas
melhores e mais evoluídas.
Grande
Abraço a todos e continuem o movimento de resistir pacífica e internamente a
tudo aquilo que nos faz mal.
Parabéns
Brasil, esse movimento já é um começo de uma lenta reforma íntima que precisa
acontecer, urgente!!!
Patrícia Cândido*
* Patrícia Cândido - É escritora, Terapeuta Holística, Palestrante, Pesquisadora, Psicoterapeuta Reencarnacionista, Radiestesista, Mestre Reiki, Mestre Karuna Reiki e Mestre Seichim (Cura Egípcia). Conheça mais acessando seu site: www.luzdaserra.com.br/conectados/patriciacandido