Outrora, eu era bem violento.
Soltava a pua mesmo, por qualquer coisa.
E como eu também bebia muito, erá só
encrenca!
Em casa era um inferno... Minha mulher
não me aguentava mais.
Meus filhos me odiavam e tinham
vergonha de mim.
Por vezes, eu chegava bêbado e vomitava
na sala, diante da família.
De outras vezes, eu caía na rua mesmo,
como farrapo humano.
E quando acordava, estava todo urinado
e com vômito nas roupas.
Eu não tinha ideia, mas tudo isso era
fruto do meu vazio interior.
O meu coração era terra arrasada, um
verdadeiro deserto emocional.
Por isso eu compensava na bebida e
extravasava a tensão nas brigas.
Isso foi assim por muitos anos, até que
o meu fígado não aguentou o tranco.
A cirrose veio e me desenganchou do
corpo de carne combalido de álcool.
E eu entrei numa espiral de confusão,
sem entender o que estava acontecendo.
Tentava chamar minha mulher e meus
filhos, mas ninguém me ouvia.
E quando eu vi o meu corpo no caixão,
gelei de verdade. Eu tinha morrido mesmo!
Eu sabia disso, mas não conseguia
entender como continuava vivo e pensando.
Era eu mesmo ali, invisível para todos,
como um fantasma de mim mesmo.
Desconcertado, saí dali para tomar uma
no bar. Eu tinha que esquecer daquilo.
Porém, ao sair da sala do velório,
fiquei mais confuso ainda e perdi a consciência.
Quando dei por mim, uns homens vieram
zombar e me encher a paciência.
Eram sujeitos terríveis e zombeteiros.
Gritavam e me azucrinavam demais.
Todos eles cheiravam a álcool e vômito.
E estavam vestidos de mulambos.
Olhando-os, senti nojo deles. E,
depois, tive nojo de mim mesmo.
Porque eu era igual a eles. E, pela
primeira vez, eu refleti sobre minha condição.
Horrorizado, fugi de todo mundo. Me
entoquei num prédio em ruínas e fiquei ali.
Não sei por quanto tempo fiquei naquele
tugúrio sujo, ensimesmado e deprimido.
Até que, um dia, surgiu uma Luz e veio
em cima de mim. E eu me senti bem.
E na Luz veio junto um grupo de homens
e mulheres vestidos de branco.
Pareciam médicos, mas eram diferentes.
Eles eram translúcidos e leves.
Me pegaram e me tiraram dali. Depois,
me fizeram dormir numa maca brilhante.
E eu aproveitei e dormi muito, pois há
tempos não relaxava e nem dormia.
Sonhei muito. Precisava desanuviar a
mente. E nos sonhos, eu vi minha mãe.
Quando finalmente acordei, estava num
lugar aprazível e cheio de natureza.
Sentia-me renovado como nunca! E o
cheiro do álcool tinha sumido de mim.
Com o tempo, me inteirei de tudo. Os
atendentes espirituais me esclareceram...
Então eu vi o quanto de tempo eu perdi
na vida e o quanto fiz os outros sofrerem.
Só não me desesperei porque aqueles
espíritos bondosos me deram suporte.
Com eles aprendi a apreciar o valor da
música na cura das coisas do coração.
Fiz terapia e tive que enfrentar a mim
mesmo. Foi duro demais, mas necessário.
E o que me fortalecia era a música.
Aprendi a viajar mentalmente...
Então, hoje, eu fui trazido até aqui
para dar o meu depoimento de ex-alcoólatra.
Porque está na minha hora de passar de
plano e ir para um cantinho acima...
Minha mãe está me esperando lá. E eu
estou louco para revê-la e abraçá-la.
Em todo o meu tempo de dor e vazio, foi
ela que patrocinou a minha melhoria.
Ela é um espírito de escol e têm muita
Luz. E agora é hora de ir vê-la, finalmente.
Eu sei que depois terei que resgatar um
monte de coisas, mas, hoje, é dia dela.
E com a sua ajuda, eu recomeçarei a
minha jornada... Quem sabe como músico?
Eu agradeço a todos os que lerem esse
meu depoimento, pois vim aqui para isso.
Ou melhor, fui trazido pelos
benfeitores espirituais para essa tarefa.
Agora eu vou voar, contente, para o
colo de minha mãe. Lá num cantinho de Luz...
E, felizmente, eu vou escutando música,
graças a Deus!
- Anônimo –
(Recebido espiritualmente por Wagner Borges – São Paulo, 27 de
setembro de 2014.)
- Nota de Wagner Borges: Esse espírito foi trazido até
o meu lar para dar esse depoimento. Mas ele fez mais do que isso: compartilhou
a alegria dele e mostrou que é possível se regenerar consciencialmente. E mais:
ele me agradeceu muito por eu ter pego o depoimento dele. E nisso, eu também
fiquei alegre por ele.
Ah,
mesmo escolado por tantos anos de tarefas anímico-mediúnicas, eu ainda me
emociono com esses lances espirituais. Tanto que, enquanto escrevo essas
linhas, as lágrimas rolam teimosamente pelo meu rosto. Por fazer parte de algo
assim...
Na
quietude de mais uma madrugada, eu penso na imensidão da vida e nas presenças
extrafísicas que estão por aí, em vários planos, todas bem vivas**.
Sim,
eu penso que há algo mais... Um Amor. Uma Luz.
E
que há um Poder Maior em tudo!
E
só Ele é que sabe que algumas lágrimas não são de dor, mas de Luz.
Ah,
é só o Amor que nos leva...
Paz
e Luz.
-
Notas:
*
Esse texto fará parte de um novo livro sobre vida após a morte que publicarei
daqui a alguns meses (com diversos textos alusivos à temática da imortalidade
da consciência)
☼ Wagner Borges – nascido no Rio de Janeiro em setembro de 1961 – é pesquisador espiritualista, projetor extrafísico, conferencista, consultor da Revista UFO e colaborador de várias outras revistas como, Sexto Sentido, Espiritismo e Ciência, Revista Cristã de Espiritismo, Caminho Espiritual, e também do Jornal O Legado.
É escritor - autor de onze livros dentro da temática projetiva e espiritual, dentre eles a série “Viagem Espiritual”, sobre as experiências fora do corpo.
É colunista de vários sites na Internet: SomosTodosUm , Revista Sexto Sentido, Revista Caminho Espiritual, Revista Cristã de Espiritismo, site IPPB: www.ippb.org.br, dentre outros.
É radialista – apresentador do programa “Viagem Espiritual”, na Rádio Mundial de São Paulo – 95.7 FM.
Para ver vídeos e ouvir áudios do Wagner Borges, acesse sua sessão em nosso Exclusivo Canal Sol do Everest no Youtube - http://bit.ly/19I3wr7
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