As nuvens de tempestade rondam no
céu, as chuvas de junho se precipitam, e o vento úmido do leste corre pelo
deserto para tocar sua música na flauta dos bambus. Então, de repente, e não se
sabe de onde, surgem multidões de flores, dançando sobre a relva em louca
alegria.
Mãe, acho que as flores vão a uma
escola embaixo da terra. Elas têm suas aulas de portas fechadas e, se quiserem
sair antes do tempo para brincar, a professora as põe em um canto, de castigo. Quando
cai a chuva, porém, é dia de festa para as flores.
Os galhos se entrechocam na floresta,
as folhas murmuram ao sabor do vento selvagem, as nuvens trovejantes batem
palmas com suas mãos gigantes, e as flores-crianças saltam fora correndo,
vestidas de amarelo, rosa e branco...
Mamãe, bem sabes que a casa delas é
no céu, onde estão as estrelas.
Não percebeste a vontade que elas têm
de ir para lá? Não sabes por que correm tanto? Pois eu sei para quem as flores
levantam os braços: elas têm a mãe delas, assim como eu tenho a minha!
Rabindranath Tagore*
- Texto extraído da excelente
coletânea de poemas inspirados de Tagore, “Poesia Mística – Lírica Breve”,
lançada no Brasil pela Editora Paullus.
*Rabindranath Tagore - escritor indiano, nasceu em Calcutá em 1861 e desencarnou
em Bengala em 1941. Depois de educação tradicional na Índia, completou a
formação na Inglaterra entre os anos de 1878 e 1880. Começou sua carreira
poética com volumes de versos em língua bengali. Em 1913, recebeu o prêmio
Nobel de literatura. Desde então, traduziu seus livros para o inglês, a fim de
lhes garantir maior difusão. Em suas poesias, Tagore oferece ao mundo uma
mensagem humanitária e universalista. Seu mais famoso volume de poesias é
Gitânjali (Oferenda poética). Fundou, em 1901, uma escola de filosofia em
Santiniketan, que, em 1921, foi transformada em universidade.
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