Diga que energia vem de você e direi quem tu és...nem sempre é tão simples assim.
Se não há duvidas em relação ao perfume de sândalos nas aparições dos Devas ou na fragrância das mirras nas festas do divino dos Santos Reis, eis que numa meditação muita intensa, senti que minha tela mental se abria e ao invés do verde-esmeralda com tons dourados das freqüências do astral alto, surgiu cores vermelhas e pretas tão umbralinas quanto as ondas de funk vindo do quintal do vizinho.
Junto com tais cores de animar flamengueses e fazer tremer evangélicos, veio também um cheiro podre e uma onda de sentimentos muitos ruins, bem malévolos; que arrepiava a alma e me fez abrir o evangelho de preces memorizadas para me defender do perigo de atrair sem querer, com as minhas práticas, energias densas, cobras mal-criadas que viessem atrapalhar meu trabalho de luz, meu estudo da luz da alvorada.
Se não era o diabo em pessoa, era o emissário; armei-me com tudo o que pude, escudos dos mais diversos levantei e gritei: " Auto lá, eparrei! Que esse corpo é fechado e essa casa segue a lei dos trabalhos espirituais do Cristo, meu Rei."
E a criatura olhou me do alto da sua envergadura, olhos em chamas e peito nú, parecia um negrão, mas era um escuro para lá de hindu. Trazia um tridente nas mãos, mas não era Shiva nem tão pouco o tal do danado do " Cão"; nos pés, além de sandálias, havia uma espécie de tábua, onde ele apoiava os pés, como se surfasse naquelas ondas do mal. Ele, então, falou: " Pensei que você era espiritualista, buscador de todas as esferas, incluindo as cinzas. Mas percebo que me enganei, você ainda é um frangote, não sabe ver além das aparências, nem filtrar o que percebe além do que te dizem as suas ventas."
A voz dele tinha som de trovão e era tão ou mais ameaçadora que os esturros de um tigre. Dava medo de ouvir, mas eu precisava escutar:
" Os anjos estão nas alturas onde estão, os santos em seus altares; aqui embaixo é exu que libera as almas dos corpos, é exu que tira a desarmonia dos lares. Não nos vestimos de águia, nem nos disfarçamos de sábias corujas; somos os urubus da vida, rasgando as carnes do ego que não enxerga a verdade mais pura. Se engana quem passa pelas portas e não vê nada mais que madeira e ferro, pois estamos em cada porta e nesse plano, somos quem revela os mistérios. Então, vagamundo da Terra, se você quiser mesmo descobrir o que há além dela, terá que ter a nossa permissão ou nunca conseguirá sentir nada além daquilo que você carrega entre as pernas."
E assim, o Surfista da Escuridão se foi deixando um rastro de luz na minha consciência, além de uma vergonha danada por não reconhecer quem trabalha para a luz, mesmo com tantos anos de estudo de estrada.
Frank Oliveira*
* Frank Oliveira é o pseudônimo de Francisco de Oliveira (Escritor), outros textos podem ser acessados em seu blog: www.cronicasdofrank.blogspot.com
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